domingo, 1 de fevereiro de 2009

Mr. JAMES

JAMES

Aquela era sempre a hora de acordar, havia disciplinado seu relógio biológico para despertar, e este era tão fiel ao seu comando que nem era necessário dispor essa tarefa para um equipamento com mecanismo digital ou analógico.
Num dia de seu aniversário, tempos atrás rcebeu de presente um relógio belíssimo com designer infantil, (parecia um brinquedo desses vindo do Paraguai), era um relógio com formato de galo que quando programado para despertar abria a “goela” e soltava o sonido que um galo faz ao amanhecer.
No início do uso, ficava encantada com aquele som nostálgico, que lembrava a roça, a granja, de qualquer lugar interiorano. Mas ao passar do tempo, foi perdendo o encanto de ser acordada pelo som de um galo em plena metrópole, porque ao abrir a janela do apartamento,
enfrentava o caos sonoro de uma cidade que gira em quatro rodas.
Passou a questionar sobre a ilusão e a certeza, então decidiu dispensar o som romântico e bucólico embora tivesse que enfrentar o concreto.
Preferiu sair dos minutos surreais , retirou as pilhas do despertador e deixou-o guardado num armário. Não queria mais enganar-se com um galinho de mentira.
Por ser acordada sempre na mesma hora, aproveitou o hábito para treinar acordar sem que fosse despertada por qualquer dispositivo.
Conseguiu.
Agora não precisava mais ouvir nenhum som para pular da cama. Pouco tempo depois , arrumou as malas e foi morar na cidade em que havia nascido, no interior paulista, aonde os galos cantavam de verdade.
No caminho de volta para casa sorriu, lembrando que o novo inquilino ao abrir a porta da sua ex-moradia , iria ser recebido por um galinho sem pilhas, o James.
Texto e Imagem : Lígia Beuttenmüller
Direitos Autorais Reservados

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