terça-feira, 13 de julho de 2010

DE VOLTA AO RECOMEÇO


A dor havia chegado e nem sabia quando iria embora.
Era resultado do excesso de amor que estufava e comprimia o coração. A presença e a ausência eram tão antagônicas e tão grandes, que mal cabiam dentro de si. E sem brecha, a saudade não tinha por onde sair, nem havia caminho para outro amor entrar. Ainda não era tempo de exílio, pensava.
Sentia taquicardia, e acelerava o fôlego para aspirar o mundo. Parecia que a angústia tinha declarado morada permanente. Tudo se fechava ao seu redor.

Apertava em conchas, as mãos suadas , como se quisesse aprisionar a vida, mesmo que naquele momento não parecesse ter sentido algum, nem as conchas , nem a vida.
O amor que acreditava sentir, estava persistindo em sobreviver, sem água , sem sol, sem açúcar, sem sal, como um habitante do deserto compartilhando miragens.
O oásis representava o tempo impreciso, aceitando o visitante como sobrevivente da ilusão que não queimava, mesmo sob o sol mais ardente.
Tinha medo de perder o que estava dentro ou do que lhe esperava lá fora? O mundo lhe parecia estranho, porque temia acabar se enroscando em alguma teia tecida novamente pelos seus sonhos .
Cada centímetro quadrante daquele esconderijo era precioso, formava uma tábua de jogo de damas. Não movia nenhuma pedra, o jogo estava inacabado , não sabia se era a sua vez de jogar, havia se perdido no emaranhado das peças e a nitidez das linhas do tabuleiro não ajudavam a sua sensatez.

Não se desfazer do "habite-se" mantinha a esperança da porta sempre aberta para motivar a volta. A incerteza do ir e vir parecia acalmar as marolas da desilusão como brisas e maresias que enfeitam e desafiam os mares, tentando esconder a intencionalidade do nunca mais.
Ficava em transe, sem perspectivas e sem alternativas, porque insistia em manter preso o que era etéreo e fugidio.
Meses e anos foram sendo desperdiçados na trama da espera.

Num dia de sol, - os dias de chuva são coniventes com a letargia-, decidiu-se...
Correu para o mar, banhou o corpo, lavou a alma, pegou uma onda, rumou ao oceano, ganhou o horizonte. Submergiu! não se perdeu nunca mais.

Créditos de Imagem e Texto
Lígia Beuttenmüller

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