quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A MULHER PERDIGUEIRA



A mulher perdigueira
Autor: Fabricio Carpinejar



A mulher perdigueira sofre um terrível preconceito no amor.
Como se fosse um crime desejar alguém com toda intensidade. Ela não deveria confessar o que pensa ou exigir mais romance. Tem que se controlar, fingir que não está incomodada, mentir que não ficou machucada por alguma grosseria, omitir que não viu a cantada do seu parceiro para outra.
Ela é vista como uma figura perigosa. Não pode criar saudade das banalidades, extrapolar a cota de telefonemas e perguntas. É condenada a se desculpar pelo excesso de cuidado. Pedir perdão pelo ciúme, pelo descontrole, pela insistência de sua boca.
Exige-se que seja educada. Ora, só o morto é educado.
O homem inventou de discriminá-la. Em nome do futebol. Para honrar a saída com os amigos. Para proteger suas manias. Diz que não quer uma mulher o perseguindo. Que procura uma figura submissa e controlada que não pegue no seu pé.




Sobre o autor:
Nascido em Caxias do Sul (RS), é filho dos poetas Carlos Nejar e Maria Carpi, adotou a junção de seus sobrenomes em sua estréia poética, As solas do sol, de 1998. Em 2003 publicou, pela editora Companhia das Letras, a antologia Caixa de sapatos, que lhe conferiu notoriedade nacional.


Crédito da música: Guilherme Arantes

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