NÃO SÃO METÁFORAS
Entro na net diariamente por força do hábito e do ofício, tão automaticamente que meu computador parece uma extensão de mim. Passeio , navego, encontro e desencontro pessoas .
Escuto, falo, escrevo, leio, vejo e me mostro, aprendo e ensino, bloqueio e sou bloqueada. Emociono-me com relatos, acho graça das bobagens e naturalmente riem, das minhas bobagens também. O virtual me encanta!
Mesmo com todo esse encanto/deslumbramento, sinto falta do olho no olho, da cervejinha gelada( quando se está no real) para temperar as conversas sérias , intelectuais e até as que provocam o famoso rsrsrsrs / kkkkk.
Tenho companhias de teclado de norte ao sul, daqui e de além mares. E cada vez que a bandeirinha anuncia alguma chegada é alguém à minha porta para adentrar com as mãos cheias de músicas que vão do Brega ao Chic’o, do barulho ruidoso do rock metálico ao som envolvente de Richard Chamberlain .
E não faltam os erudito-clássicos de uma sinfonia numerada ou o Opus de Shostakovich, em formato midi, o que não tira a beleza dos acordes.
Meu conhecimento antes restrito tem se alargado, por receber versos, prosas , poemas de escritores dos quais não tinha ainda ouvido falar – e de outros velhos conhecidos , com os quais me deleito na leitura a algum tempo.
Me trazem de presente Clarisse Lispector , Hilda Hilst, T.S.Elliot, Ernest Hemingway ou Cassiano Ricardo e deste, “Você e o seu retrato” (olhando a janela de exibição, relembro um trecho do poema)
...“Talvez porque o seu retrato,
embora eu me torne oblíquo,
me olha, sempre, de frente” ...
Recebo letras de músicas que fazem-me viajar sem sair da tela. Letras que me deixam triste por não tê-las escrito, mas abençôo a sensibilidade de quem as escreveu.
Imagino o estado de sublimação do grupo Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, quando fez o casamento perfeito de música e letra do sucesso “É VOCÊ”, ao mesmo tempo imagino que pessoa tão especial, desperta nos autores frases assim :
É você
Só você
Que na vida vai comigo agora
Nós dois na floresta e no salão
Nada mais
Deita no meu peito e me devora
Na vida só resta seguir
Um risco, um passo, um gesto rio afora ...
São essas companhias virtuais que vencem os kilometros e as horas , a distância e o tempo e conseguem me invadir sem imposição, entram com uma bandeirinha dizendo cheguei , e eu , sinceramente , eu fico com medo que a “net caia” .
PS. Teria uma tela minha para ilustrar o texto, mas preferi uma que recebi de presente numa dessas conversas.