quarta-feira, 31 de março de 2010

O meu coração caminha no céu da tua boca.



Ah! Pernas...
Pra que te quero?
Quero para
Enlaçar
Dobrar
Esticar
Correr
pra lugar nenhum ou
Dar voltas em mim e enlaçar o mundo
Pra que pernas?
Se quanto mais as cruzo
Mais as afasto
Quando o amor chega?

Imagem Google
Texto Lígia Beuttenmüller

Esperando a maré encher e tocar a lua





Esperando...
Esperando que
A lua seja banhada
Pelas águas das marés
E determinem o bailar das ondas do teu mar
O pensamento orquestra a imaginação
E entre luas nuas, brancas, cheias ou minguantes
Nada poderá impedir que o ninho seja abrigo de corpos
Que nossas almas se percam no vácuo
Enquanto minhas pernas não conseguirem encontrar as tuas.

Créditos de Imagem e Texto
Lígia Beuttenmüller

TÃO LONGE, TÃO PERTO


"Clarice,veio de um mistério, partiu para outro.
Ficamos sem saber a essência do mistério.Ou o mistério não era essencial,era Clarice viajando nele. Era Clarice bulindo no fundo mais fundo, onde a palavra parece encontrar sua razão de ser, e retratar o homem".
(Carlos Drummond de Andrade)

Li, na madrugada que amo, o depoimento de Drummond, sobre Clarice Lispector e comecei a lembrar o quanto essa escritora foi minha companhia de cabeceira por longos anos. Cada vez que lia, deparava com uma nova visão, um novo olhar sobre a “Cidade Sitiada”, e voltava a me encontrar quando “A maçã no Escuro” me chamava para ver quanta luz existia lá dentro, e sem me encandear, encadeava compassadamente elos, engrenando-os aos sonhos e realidade.
Minhas viagens entre seus escritos eram rápidas , mas profundas . Quando fechava um dos seus livros, dava pausa para a próxima vez, para o próximo encontro, fazendo uma promessa solene que voltaria logo, pois minha saída não era uma despedida, era um breve compasso, assim como sou em tua vida.

Buscava aprender sobre o amor, quando tentava entender “A paixão segundo GH”e “Para não Esquecer” a “Hora da Estrela” marcava encontro com os astros pela fresta da janela e acreditava que meu retorno era um motivo real para ter festa em teu coração.
Encantava-me, com o manipular das palavras que Clarice tecia seus textos. A intimidade com os personagens que criava nos “Laços de Família” instigavam a minha imaginação, e delirava -loucamente- quando chegava “Perto do Coração Selvagem”.
Esculpi grande parte da minha sensibilidade literária nos seus livros, penso ter moldado meus espelhos existenciais na “Felicidade Clandestina” que não precisa ter endereço postal para existir, basta que o coração errante encontre um sentido para repousar e que o carteiro nunca tenha que preencher o item de destinatário desconhecido, pois eu sei que você sabe onde estou: “Aprendendo a Viver” de “Corpo Inteiro”. Logicamente, em você.

Créditos de Texto : Lígia Beuttenmüller
Créditos de Imagem: Google Imagens

segunda-feira, 29 de março de 2010

O domínio público se servirá dos pensamentos roubados?



O avanço tecnológico e científico nas ultimas décadas tem feito coisas incríveis, e as surpreendentes descobertas, vem incentivado o homem a criar instrumentos , softwares, e aparelhos dos mais sofisticados para inúmeros fins.
Minha avó materna, jamais poderia imaginar que se tivesse nascido numa época mais próxima, poderia ter decidido que eu não fosse filha da filha dela, pois poderia ter escolhido o sexo do bebê que viria naquela gestação, ai eu poderia ter sido filha do filho dela.
Ela teve 8 filhos, não precisou do “Yotaro” para que sua fertilidade fosse estimulada, nem soube que o Japão criou através da robótica esse bebezinho para encorajar os casais a aumentar sua prole.
Não pode saber também que aquele aparelho telefônico de cor preta, com discagem analógica iria ser substituído por um aparelho minúsculo chamado celular, com cores as mais variadas, funções fantásticas e discagem digital.

Ah...quantas coisas a morte nos faz perder, quantos espetáculos cibernéticos e naturais deixaremos de presenciar, quantos benefícios científicos deixaremos de usufruir, isso sem falar dessa novidade agora, que é a possibilidade de viver em plena verdade, pois não haverá mais um lugarzinho, para esconder nossas boas mentiras, depois dessa notícia que cientistas da Universidade Carnegie Mellon, na Pennsylvania, estão desenvolvendo uma tecnologia capaz de identificar pensamentos.
Volto meu pensamento enquanto é, somente meu, para a decorrência desse fato e já vislumbro um mundo sem Tribunal de Juri, a impossibilidade do amor faz de conta, a inoperância de projetos maquiavélicos, a falência dos detetives particulares, mas também me preocupo com o poder dos “Osama Bin Laden’s”, entre outras probabilidades que a ciência poderá desenvolver quando dominar essa técnica de ler mentes, e o pensamento se tornar de domínio público.
Outra temeridade minha é com os meus direitos autorais, a privacidade que me faz diferente por pensar diferente e poder guardar no meu cérebro essa diferença. Meu pensamento deixará de ser da minha propriedade, porque nada será de autoria particular, individual, minhas idéias não terão mais casa própria, serão de domínio coletivo.
Como não há ganho sem perda, ganharemos possivelmente ,com essa nova tecnologia o poder de saber segredos dos outros , mas perderemos o nosso baú de recordações, porque se pensarmos nas nossas lembranças, logo elas estarão expostas no Twitter, sem a nossa aprovação. Teremos acesso ao âmago das pessoas, mas certamente elas invadirão nossos porões. Terá graça a vida assim? Acabará tornando-se público então o amor que segredamos?
Quem viver responderá.
Texto e Imagem
Lígia Beuttenmüller

sábado, 27 de março de 2010

A DEUSA TÊMIS AGORA , QUASE SEM OLHOS VENDADOS


Hoje, a decisão do juri popular, no caso Nardoni , começou a devolver ao povo brasileiro a credibilidade no Poder Judiciário, isso denota que é possível a justiça "VER".
Pessoalmente, acho que apenas um olho de Têmis se abriu, pois o outro continua fechado, é aquele que não quer enxergar os crimes de políticos brasileiros.
No julgamento, a linha do tempo serviu para provar mais uma vez, que ele é o senhor de todas as coisas, e foi importantissima para a condenação. Vale enaltecer a pressão popular que contribuiu enormemente para o veredicto, como também dar relevância às provas periciais, laudos técnicos, testemunhos, habilidade e competência do advogado de acusação .
Lembro-me agora de um dito popular refeito: "Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come" , mas se a gente se junta o bicho foge!
Foi assim, o povo demonstrou através da comoção, o repúdio ao crime praticado pelo casal e não se afastou do Fórum de Santana, até que a justiça fosse feita.
Demonstrou-se dessa forma que é possível sim, instigada pelo apelo popular, esclarecer fatos e julgar com equidade os crimes. Com a sentença, os monstros estarão presos, teoricamente , por 31 anos ,- idade que ele tem agora- e ela por 26 anos - tambem idade de agora-, coincidência ou não , receberam a pena de "residir" na cadeia o tempo que já viveram em liberdade. Digo teoricamente, porque será descontado o tempo que os dois passaram na cadeia à espera do julgamento e ainda se tiverem bom comportamento, sairão antes.
A vida em si , é uma sucessão de perdas, porém esse tipo de ausência , causada pela morte, não dá chance de substituir a perda por outro ganho, portanto essa dor , não cessará no coração da mãe, mesmo que os condenados tenham sido agraciados, com tamanha pena.
Ana Carolina pode agora respirar aliviada, mas certamente enquanto viver suspirará pela perda inesquecível, pois a condenação dos réus, gratifica o racional, mas não reconstruirá seu coração despedaçado.

Imagem e Texto
Lígia Beuttenmüller

sexta-feira, 26 de março de 2010

"Mingau", papa ou sexo ( des)ordenado?


Quero voltar a publicar minha indignação sobre a posição cômoda que a Igreja Católica assume frente as denúncias mundiais sobre a Pedofilia praticada pelos "PP" -padres pedófilos.
Vi hoje, no http://video.br.msn.com/watch/video/escandalo-cat-lico/kpz1cv45, "Escândalo católico nos documentos revelados pelo New York Times, o papa Bento XVI se encontra envolvido em meio a escândalos de pedofilia que denigrem a Igreja Católica" e ainda
"O papa Bento XVI se reuniu na Praça de São Pedro com mais de 70 mil jovens, aos quais animou para que rejeitem o sexo 'desordenado', o dinheiro, a cobiça e a droga. "Essas são tentações que no começo parecem ser ações de liberdade, mas que na verdade são o começo de uma escravidão".
Aconselhar é de bom tom quando não se tem que assumir a "mea culpa".Há um provérbio popular que diz: "Justiça para ser boa , deve começar em casa". Seria então interessante, que a Igreja Católica, começasse a se posicionar incialmente, expurgando do Clero esses padrecos bestiais, para então ter condições morais de fazer discursos que não fossem fantasiados de moralidade.
Que que tipo de sexo,eles os padres pedófilos, praticam? O "sexo desordenado" ou "ordenado" , já que esses miseráveis são ordenados pela Igreja para representar Deus.
Há um versículo bíblico que diz: "Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus Vivo"
Hebreus 10:31
Onde estará a mão Dele? Na cabeça dos violentados pelos PP?
Ainda bem que não sou Deus, nem mãe de algum violentado sexualmente.

Em tempo: Quem tem boca vai à Roma, se não encontrar um "PP" em seu caminho.
Uffa!
Imagem e Texto : Lígia Beuttenmüller

quinta-feira, 18 de março de 2010

CAMINHANDO NO CÉU E SONHANDO NO CHÃO





Desde o entardecer
Começo a minha insana busca
Para que chegue logo a hora do encontro
O meu ... com aquela estrela
Eu sei, que nas noites claras passeias no céu,
Nas noites escuras,
Procuras o meu coração e te abrigas nele.
Eu te vejo, te reconheço,
porque entre mil estrelas
eu sei qual delas é você.
O meu pensamento tenta
Sair de mim e me convida
Para ir ao teu encontro
Porque deseja que eu voe...contigo.
Mas minha razão, não acredita que haja “era uma vez”
Então convenço o meu coração
Com o argumento que lá para o céu só vai quem é anjo
E ele entende e concorda,
Que eu, eu sou uma simples mortal
Ai saimos às ruas, passeando de mãos dadas.

Tentando esquecer o céu, mas lembrando da estrela
E sem amargura, caminhamos nós dois, com a cabeça nas nuvens, mas os pés no chão.

Imagens e Texto
Lígia Beuttenmüller

quarta-feira, 17 de março de 2010

UM DIA SEM TI, A VIDA INTEIRA SEM NÓS






Assim é a despedida, o adeus, a gente sabe que mesmo que nos encontremos, o vento , a brisa não refrescará mais como antes. As idas são o reverso da chegada, e nunca mais , mesmo fazendo retorno não trará o que levou.
Bom seria que, as circunstâncias não quebrassem o elo, que a corrente não sofresse solução de continuidade, que soubéssemos como contornar a montanha sem nos exaurir na tentativa da escalada. Fizéssemos como os rios , que indo em direção ao mar, encontrando pedras , desviam seu curso mas não perdem sua rota, chegam, mais tarde talvez, pelas voltas que tiveram que dar, mas certamente , alimentados pela sede que vai levá-los aos oceanos, não desistem da viagem.
Cada desejo, cada sonho se reveste da certeza que há mistérios insondáveis , tanto quanto há nas galáxias, mas como astronautas ou velejadores, lembraremos que no dia em que dissemos adeus, estávamos querendo, desbravar águas e céus para chegar onde decidimos ir.


Crédito de Imagem e Texto
Lígia Beuttenmüller

ASSIM COMO AS ÁGUAS DO ARRAIAL D'AJUDA




As águas do mar azul e cristalino, decorre dos arrecifes, na praia do Arraial d'Ajuda, o que me faz lembrar como muitas pessoas conseguem ser transparentes nas atitudes e emoções, e isso é muito, muito bom! Acho que é porque temos o direito à igualdade quando a diferença nos deixa menores e quando o fato de sermos diferentes tira as características de sermos essencialmente diferentes.
Assim, é difícil encarar os “nãos” que por decisão individual ( nossa ou fora de nós) pautam os caminhos que enveredam doravante nossas vidas.
Não é possível separar sentimentos se queremos coesão afetiva. Não é possível inicialmente, nesse contexto compreender a negação com discernimento do que vale a pena, ou descobrir que a pena não vale o sacrifício, seja em qual teor ele se manifeste.
Está no homem, genericamente, o poder de decidir qual direção dará a sua vida, e naturalmente assumir a responsabilidade de compreender que a estrada não era caminho, pois uma vereda é um desvio casual do percurso -ele não queria seguir em frente- e para subsistir criou uma vertente, assim como as coronárias criam trajetos extras para não sucumbir o coração.
Portanto, não há como esgotar o imaginário quando se dá asas a emoção, pois a ambiência amorosa comporta casa, sala , quarto, cama, luar e estrelas.
Foi assim:

Um brilho de estrela rasgou o céu e lençóis

bateu em retirada , e não houve revide,

fez estragos como um raio laser numa pedra desarmada,

deitou-se displicentemente na cama

fechou comodamente as cortinas,

apagou as velas das possibilidades

para não ter sonhos reais ou ficcionais.

P.S. Nada que, em mais ou menos 20 anos, sob a tutela de Freud, não possa ser resolvido.

Créditos de Imagem e Texto
Lígia Beuttenmüller

COM PERMISSO


Reascende em mim o amor, a amizade renasce, Logo desperta a dor, repete-se a dolência do curso complicado e duro da existência. (...)" (Goethe)

Pela janela do mundo observava as pistas que mesmo iluminadas fortemente pelas fibras óticas mal davam, para divisar as linhas que separavam o real do virtual, no entanto, parecia ver imagens em movimento como em uma fita de cinema, mas na realidade elas estavam paradas, reproduziam apenas quadros e nessa ambigüidade parecia ouvir sons imagéticos, mas era o silêncio quem ordenava a movimentação metafórica das imagens.
A tristeza tornou-se miúda, e em pedaços penetrava na alma como pingos de chuva ao insistir transpor a vidraça . A cabeça ordenava ao corpo que trancasse no peito o coração, para que ele não caisse nesse abismo. Era melhor afogar-se, no seu próprio sangue que morrer de paixão.
Até onde os poetas podem tocar a alma que foi roubada numa agonia sem rastro nem traços?
Como dividi-la ao meio e mapear geograficamente o que pode ser tocável, ou ela é toda, intocável? Há que se esculpir e adornar o sentimento? Haverá, de alguma forma, maior grandeza no esquecimento ou na lembrança ?
O incerto é magnífico, porque nutre a esperança, que mesmo cheia de contrastes é insubmissa a qualquer coisa, sobretudo, quando os mistérios, assim, como a verdade, só têm explicação quando vividos, e eu me permiti chegar até aqui.


Créditos de Texto e Imagem
Lígia Beuttenmüller

sábado, 13 de março de 2010

A CAIXA DE PANDORA




Acho que sou reminiscente daquela época, a mitologia grega me encanta. Pesquisando descobri que Pandora foi a primeira mulher que existiu, criada por Hefesto e Atena, auxiliados por todos os deuses e sob as ordens de Zeus. Cada um lhe deu uma qualidade. Recebeu de um a graça, de outro a beleza, de outros a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais. Hermes, porém pôs no seu coração a traição e a mentira. Feita à semelhança das deusas imortais, Zeus destinou-a à espécie humana, como punição por terem os homens recebido de Prometeu o fogo divino. Foi enviada a Epimeteu, a quem Prometeu recomendara que não recebesse nenhum presente dos deuses. Vendo-lhe a radiante beleza, Epimeteu esqueceu quanto lhe fora dito pelo irmão e a tomou como esposa.
Ora, tinha Epimeteu em seu poder uma caixa que outrora lhe haviam dado os deuses, que continha todos os males. Avisou a mulher que não a abrisse. Pandora não resistiu à curiosidade. Abriu-a e os bens escaparam por mais depressa que providenciasse fechá-la, somente conservou um único bem, a esperança. E dali em diante, foram os homens afligidos por todos os males.
E daí? Nem me importo com isso, pois restou a esperança, essa é a mola que impulsiona os sonhos e faz com que eu sonhe sem dormir para não perder a hora da sua chegada.


Créditos de Imagem e Texto

Lígia Beuttenmüller

O ARCO - IRIS DE IRIS


Como afastar o que nem consegui aproximar, porque enquanto você passava eu seguia em outra direção, perdi o senso de que a distancia é real e o tempo me impediu de esperar em qualquer lugar de mim, pois não sei se o corpo alimenta o espírito, se o espirito alimenta o corpo, ou os dois se necessitam. Mesmo assim não quero lhe dizer adeus. Partir ou ficar é coisa minha, e não me atrapalha... eu me atrapalho quando entrelaço sem laço, mas tiro do meu caminho o côncavo que não se encaixa no convexo.
A vida pede uma loucura, meu senso pede parcimonia, meu desejo pede corpo, minha alma quer espírito, meu tesão pede lascívia, meu mar quer calmaria .
Eu enlouqueço meus dois neurônios ou eles me enlouquecem? pra onde ir? de onde vir? partir é ruim , ficar também é, onde encontrar a harmonia se a persistência da busca, nunca vem acompanhada daquilo que quero?
Por isso a imperfeição reina em Parságada, não na de Manuel Bandeira, ele era amigo do rei e se contentava com isso. Eu não tenho reino, nem sou amiga do rei, mesmo que em minha cama exista uma mulher que se deite nela. Se isso bastou ao poeta, a mim basta então, que fiques comigo, assim, longe e perto, sem dúvida, sem certeza, e que o apelo de ET não seja o impasse da decisão, nos pedidos :" vem... fica...”.
Mas a gente não se contenta com apenas isso, se quer ser feliz junto, grudada , e abre mão do quase ser feliz, a gente quer completar e quem sabe , bastava apenas complementar.
Felicidade é exercício de ontem, hoje e amanhã, porque ser feliz é apenas uma possibilidade, viver é um risco e o futuro é um ganho a mais, é privilégio de quem subiu uma escada sem degraus e apostou que o cume existia , arriscando, para ir mais além, ou despencar, mas crendo que há algo ou alguém para aparar a queda. O que não se pode, é perder a chance de quebrar a cara ou as nozes e de perceber que o natal pode ser uma época ou uma cidade. Se for época , façamos como as formigas , criemos um celeiro para guardar o que sobrar, para outros natais, se for uma cidade , vamos morar lá, cavalgando num cavalo branco, que o fornecedor para vender ilusões etílicas insiste em chamar de White Horse . Eu não me importo com cores separadas, porque prefiro o arco –iris , de iris, da Iris. E assim, abro os meus olhos para o mundo ou os fecho para guardar o arco e a íris como acalanto e lembrança para a minha alma.


Créditos de Texto e Imagem
Lígia Beuttenmüller

LIVERDADE




Errei a grafia da palavra ... não, lógico que não, apenas juntei o sonho à realidade, e introduzi no campo dos signos verbais , mais uma possibilidade de unir “ser livre” sem mentir ou ocultar grilhões. Não aprisiono a vida, por isso voo em qualquer ceu qualquer mar e ainda me arrisco no teu deserto em busca do que não perdi.
Tenho certeza que o que deixei para trás não lembro, porque o que se esconde no “meu nem sei” não existe, mesmo que para ter essa certeza eu precise parir uma gravidez temporã ou abortar o que nem havia ainda sido inseminado.
Você não lembra, porque nem havia espaço para registro oficial , mas eu, eu revolvo lembranças utópicas, do que nunca vivi, mas senti. Enquanto isso, você ganha o sono no apagar das luzes, e eu amargo docemente na angustia de saber que o seu dormir me acorda, porque eu ainda quero sonhar de olhos abertos para uma vida que talvez não tenha, mas certamente acreditei ser possível.
Eu sei, que sonhos – não só os da padaria- alimentam a vida e o que se sonha acordado ou dormindo, como esquecer? Talvez para isso, seja necessário sublimar e se não houvesse essa possibilidade, porque então criaram esse vocábulo?

Créditos de Imagem e Texto
Lígia Beuttemnüller

EU NUA TUA





Não, não pense na nudez carnal, ela às vezes, para agradar a gregos e baianos, precisa de ajustes de cirurgiões , de massoterapeutas, mas essa , essa nudez é tão nua , que nem Pitanguy teria instrumentos, nem conhecimento estético para burilá-la. É daquelas que por mais que a gente esconda, há sempre alguém capaz, de penetrar, descobrir, desnudar o que já está sem roupas, é apenas uma questão de sensibilidade de quem tem o poder de sentir/ver.
Esse tal coração, coberto por esse sentimento está tão nu quanto Adão e Eva no paraíso, e nem será castigado, pelo Homem, e nem foi roteiro do filme brasileiro “Toda nudez será castigada”. Como castigar o que não se pode esconder? Como cortar uma margarida ou um jasmim, se a raiz persiste em brotar? Sei como, sei sim. Basta retirar dela -raiz- o sol e o sal da terra. Será? Mesmo assim se não corta-la do coração , ela surgirá não como flor com cheiro e cor, será apenas a flor tombada pelas ilusões , que se nutre não de sol e sal, mas do medo de plantar em outro jardim .


Imagens e texto
Lígia Beuttenmüller

quarta-feira, 3 de março de 2010

ENQUANTO VOCÊ DORMIA




Ah, enquanto vc dormia, eu trilhava as entrelinhas, e me perdia entre as linhas, que enovelam a vida, não sei se de qualquer um, mas da minha sim.
Ia em cada extremidade do novelo e nunca achava aonde as entrelinhas começavam e nem aonde terminavam, me embaralhava no labirinto que as palavras criaram para se esconder em cada curva que as linhas davam.
Talvez fizessem parte de uma estratégia bélica desenhada e redesenhada por um expert em lutas e embates existenciais, para que eu nunca as vencesse, portanto não achasse saída . Tentei sair , desisti, eu quero permanecer nesse emaranhado metafórico cujo poder de sedução só é comparável com as histórias de mil e uma noites. Não sei quantos dias, quantas horas tenho me perdido e me encontrado, só sei que fazia tempo que eu não me sentia assim, entre o fugir e me entregar, feito bicho selvagem acuado e prestes a ser capturado.
Quando acho o sentido dos meus sentidos, descubro que era somente uma visão de quem vaga no deserto, a sede é tamanha que qualquer pingo de água provoca uma inundação no corpo e na alma, e a saudade chega como ressaca da ausência.
Mesmo sem deitar em tua cama, deixo que repouses em meu ombro, desejo que sonhes comigo , embora eu estivesse na verdade, velando teu sono, enquanto você distraída, dormia.


Créditos de Imagem e Texto
Lígia Beuttenmüller

A HORA DO AGORA

Há uma tendencia mundial em medir a responsabilidade das pessoas pelo cumprimento do horário acordado, no entanto em questões amorosas, por se tratarem de coisas do coraçao, devia haver maior flexibilidade nessa conceituação.
Como vou ter a sensação de perda , se quando chego você já está? Como pensar que a demora é porque esqueceu em cima da hora, o chocolate e a flor? Quem seria mais importante , a hora de agora ou a desculpa do atraso envolto em um presentinho qualquer?
Como posso valorizar sua ausencia se vc me dá a certeza de que o longe não existe ? Como morrer de saudade se você cumpre horário britânico, e ainda reclama que eu sempre me atraso.
Deixe que a dúvida se impregne por instantes, que eu pense até que outra pessoa interrompeu tua vinda e que por isso você demora a chegar, lembre-se que meu temor é momentâneo, porque meu coração pelas batidas descompassadas não acusa taquicardia, nem hipocardia , apenas fica disritmico , porque ele sabe que eu estando em você, lembrarei num leve sussurro , que iremos nos encontrar, por isso não demore muito. Portanto, só vale a espera, se a chegada tardia trouxer um largo sorriso envolvido por uma boa desculpa . O que não podemos esquecer é o local onde o meu coração vai encontrar o teu, e o seu abraçará o meu.

Porém, cada um sabe a quantas anda o seu relógio. Eu sou sem (n) hora, posso me dar ao luxo de atrasar ou adiantar os ponteiros da minha vida porque depois do tanto que já vivi , o que vem, complementa o lucro de ter sonhado sem ter tido pressa para dormir.

Créditos de texto e imagem

Lígia Beuttenmüller

terça-feira, 2 de março de 2010

A AUSÊNCIA DOENDO NOS OLHOS E NA ALMA



Mais uma vez, ela se permitiu acabar as férias que tinha destinado ao seu coração e sem pensar deixou-se levar pelo encanto do recomeço.
Esquecendo sua vulnerabilidade, apostou na insanidade para recomeçar. E foi partilhando versos e poemas e nas entrelinhas, contava segredos, desejos, medos e esperanças. Olhava as estrelas como se elas pudessem marcar o território da paixão. Navegava em cada pedacinho do céu como um astronauta que flutua sem se preocupar com o empuxo da gravidade, assim, se entregava como nada mais restasse, senão a lembrança de um olhar que nunca viu, de uma voz que nunca escutara. Ficava buscando encontrar o que nunca perdeu, pois nada disso era seu. As coisas sem explicação são mais instigantes, dizia, porque ficava tentando, como um jogador que não quer perder, até mesmo sabendo que é muito remota a possibilidade de ganho, mas tentar a deixava viva.

Créditos Imagem e Texto

Lígia Beuttenmüller

segunda-feira, 1 de março de 2010

O GRANDE SEGREDO


Quantos segredos um coração pode guardar, quantas verdades ele pode inventar, quanto tempo ele pode esperar, quanta ausência ele pode preencher, quantas trilhas ele pode caminhar, quantos descaminhos ele pode reconhecer ?
Cada caminho nos leva ou nos traz, depende da posição que estivermos diante dele, marcas são deixadas para entrar , permanecer ou sair. E essa decisão nos leva ao fim , ao começo, ou ao recomeço.
Há quanto tempo a fogueira apagou, e o S. João só virá no próximo ano , mas insistimos na utopia de prender quem veio e se foi, ou deixar solto quem nem vai chegar porque não encontra o caminho do bem querer ou do querer bem.
Como acreditar que o trem do futuro possa encontrar o retorno para buscar quem perdeu-se na última estação? Era primavera, as flores encantavam o mundo , os jardins e o coração, mas o inverno chegou , e ficar debaixo dos cobertores tentando aquecer a alma, enquanto as folhas despencavam das árvores por saber que sua época de florir os campos terminou, impede que vejamos , sintamos outras estações. O verão havia chegado para dizer que o que aquece tem por obrigação de espargir calor, se isso não aconteceu , certamente, apenas, nós , sós, soprávamos as brasas e nem conseguimos ver que só sobraram cinzas no céu, no mar , enfim. E a gente nem olha que a natureza se reciclou porque é mais cômodo permanecer debaixo daquele edredom que perdeu para o tempo as suas marcas, desbotou e não há pigmento que lhe traga novamente as cores copiadas do arco íris do que alçar voo, pretender, arriscar, trocar, ganhar, ou quem sabe perder, perder de novo. Mas o que importa mesmo , é saber que na tentativa houve, inúmeras possibilidades de estar e quem sabe ser . A aquarela sou eu, eu quero o colorido da vida aqui dentro de mim. Esse é o segredo da zenialidade.
P.S.
Zenialidade- estado ou capacidade de aguardar de forma paciente mas, impacientemente, o novo , que trará ou não , a paz ao meu coração .

Eis a questão!

Créditos de Imagem e Texto
Lígia Beuttenmuller