quinta-feira, 30 de setembro de 2010

GRANDE DEMAIS É QUASE NADA


Zé Ramalho e Geraldo Azevedo - O Amanhã é Distante





Certa vez, uma formiga olhou pra o céu e o viu tão longe que pensou jamais alcançá-lo, ai perguntou a uma laranja  a sua frente, se para ela o céu também estava muito distante. A laranja falou, olha formiguinha, ao invés de você ficar calculando a distância entre o céu e você, e o quanto ele está lá longe, penso que seria melhor imaginar, que o mundo seja do meu tamanho, assim o céu não estará tão inalcançável para você.
A formiguinha parou e deitou  numa folha do laranjal, para refletir melhor, e pensou, se eu achar que o mundo é do tamanho de uma laranja, realmente ele é, porque meus medos e meus sonhos são sempre do tamanho que eu os imagino .
Assim, fica mais fácil eu chegar até aonde eu quero ir, se sei para aonde vou, porque nada fica longe se a gente sabe o quanto está perto, e  mesmo que à primeira vista tudo pareça inatingível, basta a gente mudar o foco para perceber que o longe, ora, o longe é um lugar que só existe para aqueles que não percebem que entre a terra e o céu , há sempre uma laranja, tão doce quanto o mel que a abelha se ufana em fabricar.
Grande demais? Não. Eu posso abraçar sem apertar, posso equacionar a distância e ver que se a certeza me induzir para dentro de mim, é lá que você vai estar, portanto, a distância da formiguinha para o céu ou para a laranja será do tamanho da que separa o meu coração do teu.
Eu sei, é quase nada!



Música: Zé Ramalho e Geraldo Azevedo
Texto:Lígia Beuttenmüller

VOCÊ SE PERDEU DE MIM


Você Perdeu
Composição: Márcio Valverde e Nélio Rosa







Noves fora, quase nada. E era de vidro o anel
Meia volta na ciranda. Não há estrelas no céu
Não tem saudade nem mágoa. Meu amor fala outra língua
De você o que naufraga. De você só o que míngua
Sua graça não me anima. O meu pranto não é seu
Já dobrei aquela esquina. Onde você me perdeu



Foi você quem se perdeu de mim
Foi você quem se perdeu
Foi você quem perdeu
Você perdeu



Vou dizer num verso breve. Pra por num samba-canção
Que hoje a minha vida é leve. Sem você no coração
Hoje tenho quem desvele. Quem me vista à fantasia
Quem escreva em minha pele. Coisas que eu não lhe diria

Hoje a minha vida rima. E agradeço àquele adeus
Que eu vi naquela esquina. Em que você me perdeu
Foi você quem se perdeu de mim. Foi você quem se perdeu
Foi você quem perdeu. Você perdeu





Bendita Bethania, bendito show, pude experimentar na leveza do caminhar dela, como é bom viver tirando os pés do chão.
Cada música me levou a inúmeros sentimentos. Via nos aplausos da platéia a mesma evocação que eu fazia e a mesma leitura que explodia em gritos de aquiescência, de liberdade, de percepção contundente, onde as letras das músicas ganhavam vida e entrelaçavam amores ou separavam vidas com extrema significação.
O público cantou em uníssono com Bethania sem acompanhamento músical "Viver e não ter a vergonha de ser feliz".
Nesse momento gritou acho que para todo mundo, bem,  pelo menos para mim, como a vida é curta e como é bom traçar o que seja indiscutível para a possibilidade de ser feliz.
Ser feliz sem escancarar os dentes para esconder as tristezas inconfessáveis, mas revirar o coração e o cérebro e encontrar essa felicidade medonha que não se envergonha de ser feliz, sem medir  o estrago que possa provocar na opinião alheia.
 Hoje é o dia, e a cada amanhecer é o dia de lamber, degustar sol e flores, porque ainda não é a hora do adeus.
Qual o que? Destino eu traço na minha mão e não permito ferida nem rasgos no meu sentimento.
Eu determino se fico ou vou, eu construo ou destruo e com a mesma facilidade que um tufão arranca árvores, derruba estrelas, eu petrifico ilusões.
A mesma lágrima que cai e salga a minha língua, me faz sentir mais sede, e eu não recuo diante de um novo poço novo.
A vida não espera consertos, e o amor pede respeito até no reclamar da dor. O parto é sem mágoas , sem pena, sem saudade , sem dor, é o amor nascendo, renascendo como se fosse a primeira vez -Valisère-.





MÚSICA : MARIA BETHANIA



TEXTO : LÍGIA BEUTTENMÜLLER

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

EM FRENTE AO MAR




Olhei pela janela
previ o tempo
vi raios e trovões
mas esperei a calmaria
como o pescador esperançoso
que aposta em melhores ventos
E entre um terremoto
e um tornado haveria
que em algum instante
a paz se restabeleceria
porque o silêncio não pode gritar,
se contrapor a inércia.
No dia longo, a rotina pesa  no corpo
e a cabeça arrebenta
Como abraçar a noite fria,
beijar a loucura sombria e
buscar a carícia até encontrar a calma?

Hoje, nossos desejos dobraram a esquina
e se juntaram novamente
aos arrepios, e gemidos
Agora o corpo ferve, e explode
o  coração acelera, e descompassa.
a mente perde o controle,
mas prende o resto do prazer
que nunca  foi embora.



Texto: Lígia Beuttenmüller
Música : Amor perfeito - Cláudia Leitte e Roberto Carlos

SEPARAÇÃO É UM LUTO




Recebi o e-mail de uma amiga lamentando sua separação. Estava casada a mais de 10 anos. O telefone toca, era ela . Chorosa , contou os últimos dias da relação como se estivesse relatando um acometimento, uma tragédia ou  uma morte, sua voz chegava a ter sonoridade fúnebre.
Me contava cada detalhe dos ultimos anos de convivência e deixava transparecer a tristeza de constatar que não era mais interessante para a pessoa com quem convivia tanto tempo. 
Cobrava a si mesma como se houvesse permitido o definhar da relação, embora ao relembrar e revirar os dias e anos não encontrasse nada que justificasse a perda, a separação.
Quando relatava a relação vivida soluçava ao somar o tempo como se fosse uma conta matemática, retirava dele a essencia dos momentos em que foi feliz, e somava as dores e desencantos.
Ficou tecendo , debulhando cada momento de aflição e desgosto, como se lavasse a alma ou desse trégua a sua dor.
A cada suspiro demonstrava sua fome de sossego e de paz , mesmo que isso significasse a ruptura com a sobrevivência do espírito.
Nada podia apaziguar seu tormento, o medo de ficar só, pensava insistentemente nas respostas que  teria para o mundo quando tivesse que explicar sua solidão.
Parecia que dos dez anos muito pouco teria restado e nessa conta doida , nada somava, tudo diminuia de tamanho e de importância.
A dor ofuscava os momentos felizes, deturpava as intenções e conturbava o raciocínio. Eu escutava cada palavra, percebia cada corte da respiração e ia organizando o pensamento para ajudá-la , pelo menos naquele instante,  eu só me via como  uma boa ouvinte.
Marcamos uma determinada hora , para nos encontrarmos no Shopping e continuar a conversa.
Às 17.00h chego no local marcado e encontro-a acompanhada do marido, na mão,  dois bilhetes de entradas para o  cinema .
Sorrio , cumprimento-os e vou tomar sorvete.


TEXTO: LÍGIA BEUTTENMÜLLER
MÚSICA : NAQUELA ESTAÇÃO - ADRIANA CALCANHOTO

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O TEMPO CURA TUDO, PÕE TUDO NO LUGAR




É tudo que o coração despedaçado quer

deseja enormemente que o tempo seja célere
que voe turbinado feito um avião F-15 EAGLE
cuja velocidade surpreenda e suspenda a tristeza
que o ato seja a palavra do pensamento
Importa quando, sim , importa tanto
que o sol não nasça ou se ponha
entre os medos e as mágoas.
Mas se for para o bem
que o tempo cristalize
os sentidos (e)ternos
e os desejos partam
sem vontade de voltar
se ausentem sem pressa
e possam na solidão
voltar a ser multidão




TEXTO:
Lígia Beuttenmüller
Música: Fogueira- Ângela Ro Ro
Intérprete: Maria Bethania

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

MEU CORAÇÃO ATEU É TEU



Meu espírito se acalma
na tua alma
Quando voa pelo etéreo
e encontra o eterno em ti
O teu aconchego embala meu sono,
tal qual as ondas embriagando o mar.
Cada noite peço ao  meu anjo
que te encontre,
te abrigue com suas asas,
até que durmas
e sigas em sonho
o mesmo caminho
que parte  da terra e
chega ao infinito dentro de nós
é quando o meu coração ateu
se entrega ao teu.


TEXTO:LÍGIA BEUTTENMÜLLER
MÚSICA: CORAÇÃO ATEU- MARIA BETHANIA

domingo, 19 de setembro de 2010

NADA E TUDO A PERDER






Quando eu não te vejo,
o dia passa mornamente

mesmo que o sol emane raios abrasantes
e o calor invada a terra
Sem te ver, perco o rumo
tal qual  viajante dos mares
que sem bússola
não consegue chegar ao oceano,
nem encontrar o porto.
Busco encontrar entendimento
para o teu silêncio,
enquanto a saudade grita dentro de mim.
Para sossegar meu coração
tento dormir, mas não te esqueço, nem adormeço
porque a tua ausencia deita em meus braços,
e o teu corpo faz sombra em minha cama.
Me recosto nos travesseiros,
me enrosco nos lençois,
o teu cheiro invade meu olfato e o meu quarto.
Olho a tua foto 10x15 , e de tanta saudade
ela vira outdoor na minha lembrança.




TEXTO : LÍGIA BEUTTENMÜLLER
MÚSICA : PAULA FERNANDES - FOTOGRAFIA

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A TEIMOSIA DO QUERER



Para te encantar viro criança,
minha pele se reveste de veludo
para sentir teu toque
e agradar aos teus sentidos
minha boca fica sedenta dos teus beijos longos
meus olhos buscam teu olhar cúmplice
os caracóis dos meus cabelos
sentem a falta das tuas mãos
Tento o enlace do corpo,
quando pouso a cabeça no teu ombro
e me aprisionas a alma
Todos os dias de sol ou de chuva,

todas as noites de ceu estrelado ou nublado
Fico olhando para o portão...
Já é madrugada e o quarto ainda está vazio



Texto Lígia Beuttenmüller
Som: Nana Caymmi - Não se esqueça de mim- Roberto C
arlos

Imagem: Google Imagens

A MULHER PERDIGUEIRA



A mulher perdigueira
Autor: Fabricio Carpinejar



A mulher perdigueira sofre um terrível preconceito no amor.
Como se fosse um crime desejar alguém com toda intensidade. Ela não deveria confessar o que pensa ou exigir mais romance. Tem que se controlar, fingir que não está incomodada, mentir que não ficou machucada por alguma grosseria, omitir que não viu a cantada do seu parceiro para outra.
Ela é vista como uma figura perigosa. Não pode criar saudade das banalidades, extrapolar a cota de telefonemas e perguntas. É condenada a se desculpar pelo excesso de cuidado. Pedir perdão pelo ciúme, pelo descontrole, pela insistência de sua boca.
Exige-se que seja educada. Ora, só o morto é educado.
O homem inventou de discriminá-la. Em nome do futebol. Para honrar a saída com os amigos. Para proteger suas manias. Diz que não quer uma mulher o perseguindo. Que procura uma figura submissa e controlada que não pegue no seu pé.




Sobre o autor:
Nascido em Caxias do Sul (RS), é filho dos poetas Carlos Nejar e Maria Carpi, adotou a junção de seus sobrenomes em sua estréia poética, As solas do sol, de 1998. Em 2003 publicou, pela editora Companhia das Letras, a antologia Caixa de sapatos, que lhe conferiu notoriedade nacional.


Crédito da música: Guilherme Arantes

Roberto Carlos - Amor Pefeito com Claudinha Leitte

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A SAUDADE PODE ESPERAR


Depois da volta,
é preciso muito mais que a distância
para que a solidão se instale.
É necessário toda barulheira de mil trovões
para impedir que eu escute a tua voz
que fala baixinho às minhas lembranças.
Meu coração precipita-se ,
afastando-se da dor da ausência,
e teimosamente se enche da certeza
de um novo encontro
Enquanto isso, a saudade
espera na fila do check -in

TEXTO: Lígia Beuttenmüller
IMAGEM: Google Imagem




quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A PAUSA




Parece que é hora de ir embora
Antes que a vontade da volta
Desapareça
e se acostume ao aconchego
da alma e do corpo aqui

Não sei quem segue
Nem sei quem fica
Se a metade de mim arranca a minha outra metade
para consolar as nossas ausências

A metade de mim que era eu,
Passa a ser
rascunho de palavras
e fragmento de estrelas

Somos metade de corpos
em corações inteiros
Sons, e sonhos , rabiscos e gestos
andando na ponta dos pés.




Texto : Lígia Beuttenmüller
Imagem: Uol Imagens

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

BIENVENIDA


Eu ouvi, nitidamente,
ouvi um coração sussurrar
ao meu ouvido:
seja benvinda.

Abro a porta do carro,
desconcertada, sento ao seu lado.
Tenho as mãos
tomadas e enlaçadas por outras mãos.

O olhar encontra os olhos,
e as bocas sorriem
descrentes
ao percebermos que o sonho e a distância
diluiram-se no beijo.

Texto: Lígia Beuttenmüller
Imagem: Google Imagens







domingo, 5 de setembro de 2010

O BEIJO


  1. A mordida,
    que antes era um pinçar suave,
    vestiu-se de lamento
    A raiva incontida
    Desejava rasgar a pele
    Marcar a dor
    O desamparo
    deslizou para o nada
    A mesa estava posta,
    mas a fome havia sido consumida.
    No prato quase vazio restavam,
    as migalhas do resto da festa
    Morde-me, era o apelo!
    Ela preferiu o beijo...
    que se perdeu no amor e no medo.


Texto: Lígia Beuttenmüller
Imagem: UOL Imagens


AGORA, EM CASA


Vou correr estradas, daqui a pouco , os quilômetros vão virar centímetros, as horas vão virar segundos, o sol vai me acompanhar até que eu perceba que já cheguei, até que o encontro se dê.
Mesmo que o dia já tenha terminado, o sol se esconderá para ver a tua chegada, e a lua certamente vai te receber , cheia de prazer.
Eu estou indo ao teu encontro, mas , é você quem vai chegar depois que eu já estiver te esperando. É engraçado como uma ida pode se tornar uma espera.
Estou arrumando as malas, coloco meu roupão cinza, com listas talhadas no tecido, e um felpudo cinto abraça o teu, branco, novo, nunca vestido, é o que vou levar de presente, mas ele virá de volta, como uma capa que só é usada em dias de chuva, e será guardado até que chegue o novo encontro. As idas e vindas marcarão quantas vezes a saudade será aplacada, quantas vezes a vontade de ver e ter vencerá o “não posso agora”.
O roupão ficará sempre como demarcador de águas, as marcas do amor poderão ficar nos lençóis, mas é no roupão que a saudade se grudará.
Sei que quando você me abraçar, eu vou pensar que estou sonhando, mas você me dirá: agora, você está em casa.

TEXTO : Lígia Beuttenmüller

IMAGEM: Martha Dietz Beuttenmüller