sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SEPARAÇÃO É UM LUTO




Recebi o e-mail de uma amiga lamentando sua separação. Estava casada a mais de 10 anos. O telefone toca, era ela . Chorosa , contou os últimos dias da relação como se estivesse relatando um acometimento, uma tragédia ou  uma morte, sua voz chegava a ter sonoridade fúnebre.
Me contava cada detalhe dos ultimos anos de convivência e deixava transparecer a tristeza de constatar que não era mais interessante para a pessoa com quem convivia tanto tempo. 
Cobrava a si mesma como se houvesse permitido o definhar da relação, embora ao relembrar e revirar os dias e anos não encontrasse nada que justificasse a perda, a separação.
Quando relatava a relação vivida soluçava ao somar o tempo como se fosse uma conta matemática, retirava dele a essencia dos momentos em que foi feliz, e somava as dores e desencantos.
Ficou tecendo , debulhando cada momento de aflição e desgosto, como se lavasse a alma ou desse trégua a sua dor.
A cada suspiro demonstrava sua fome de sossego e de paz , mesmo que isso significasse a ruptura com a sobrevivência do espírito.
Nada podia apaziguar seu tormento, o medo de ficar só, pensava insistentemente nas respostas que  teria para o mundo quando tivesse que explicar sua solidão.
Parecia que dos dez anos muito pouco teria restado e nessa conta doida , nada somava, tudo diminuia de tamanho e de importância.
A dor ofuscava os momentos felizes, deturpava as intenções e conturbava o raciocínio. Eu escutava cada palavra, percebia cada corte da respiração e ia organizando o pensamento para ajudá-la , pelo menos naquele instante,  eu só me via como  uma boa ouvinte.
Marcamos uma determinada hora , para nos encontrarmos no Shopping e continuar a conversa.
Às 17.00h chego no local marcado e encontro-a acompanhada do marido, na mão,  dois bilhetes de entradas para o  cinema .
Sorrio , cumprimento-os e vou tomar sorvete.


TEXTO: LÍGIA BEUTTENMÜLLER
MÚSICA : NAQUELA ESTAÇÃO - ADRIANA CALCANHOTO

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