quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

ANÁLISE LÉXICA OU BRINCADANDO COM OS SINAIS



Era domingo. Ele estava com os pseudo-neurônios rodopiando na cartilha onde morava , foi pensando em tanta coisa ao mesmo tempo que fez imensas paradas , analisando os sinais dos "porém’s" que iam surgindo em seus pensamentos.
Ia se surpreendendo e descobrindo como eles enobrecem a escrita. Passou a observar a funcionalidade deles nos textos e vê-los como vestimenta e adornos das letras escritas quando o sinal sobe para ¨apostrofar¨, e principalmente se esse mesmo sinal se junta para envolver de mistério a palavra nas aspas.
começou a fazer uma análise maluca sobre eles e foi se apaixonando pelas reticências, pelas exclamações e todos os outros, inclusive por si próprio.
Começou então sua análise pelos pontos finais, e conceituando que eles são representantes do término da busca, ou o início de novas partidas, ou ainda simbolizando os encontros quando se sobrepõem (:) , na chegada a alguma conclusão ou nas despedidas ao nunca mais.
Notou que cada vez que uma reticência aparece, parece que a gente está querendo mais fôlego para retroceder e voltar para onde nos perdemos, correr ou parar para pensar , ou ainda para permanecer remoendo esperanças.
Contemporizou... as vírgulas, são pontos com rabinho ou são rabinhos com cabeça? Elas servem para dar compasso ao ritmo textual, são amigas do ar pausado e quando se junta ao ponto se enche de justificativas. E quem não fica satisfeito em saber que as vírgulas, condicionam a parada para o entendimento de uma explicação?
Daí pensou na interrogação e... Acho que ela surgiu da exclamação, que de tanto perguntar foi se contorcendo, se inclinando... Para ouvir num intimismo as respostas, quase dando uma volta em si mesma, e como numa semi- introspecção apoiou- se num ponto para não perder a sua referência nem seu equilíbrio. Elas não se importam com as respostas recebidas se positivas ou negativas, e mesmo que sejam um sim, não se voltam para cima, não se desentortam , permanecem na dúvida (serão sábias ?).Lembrou-se então dela na grafia espanhola, elas se sentem tão sozinhas que uma fica de cabeça para baixo e a outra para cima olhando-se vesgamente, como se quisessem aprisionar a sonoridade da pergunta e se impor às respostas para não serem esquecidas.
Ele empurrou as idéias para outra página, ficou indeciso se pensava num “tom” grave, ou agudo, mas preferiu um hífem para causar um compasso da espera. Pegou um “chapéu” (^) convidou amorosamente o Ç e foi para a casa do til (~), sem tremër.
Ele, ele era apenas um Ponto( .) que brincando de escrever com uma vírgula ( , ) formavam um ( ; ).


P.S. Assim, os “pontos” representam nossas emoções na leitura que fazemos do mundo !
TEXTO E IMAGEM : Lígia Beuttenmüller
Direitos Autorais Reservados

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A DECÊNCIA DO SABER

“Dois e dois são três” disse o louco.
“Não são não!” berrou o tolo.
“Talvez sejam” resmungou o sábio. Skepsis

No campo sagrado onde faço minhas reflexões fiz uma viagem bucólica quando li essa frase, mesmo assim a ingenuidade foi perdendo-se e eu pude me desvencilhar da ilusão para compreender a realidade que ela me trouxe.
Acho interessante como é difícil entender as pessoas, totalmente.
Estou diante de três pessoas (que não são unas) e que por causa das suas assertivas foram classificadas de acordo com suas respostas ... Questiono se o “louco” não poderia ser simplesmente um analfabeto funcional matemático; se o “tolo” seria alguém bastante teimoso e não necessariamente um desconhecedor de números, ou ainda, um romântico ou filósofo que estaria contestando uma pseudo-verdade. Porém o sábio é um sábio, Salomão que o diga! A sabedoria dele estava respaldada na dúvida , e foi a dúvida quem decidiu quem era a mãe da criança.
Na frase inicial do texto as pessoas estão diante de uma pergunta que os incita ao questionamento de como viam os números, suas combinações e os seus resultados.
Mas quem deles estaria certo? Todos. Cada um com um mundo matemático diferente em sua cabeça. Considero que a verdade de cada um é a sua lealdade a si mesmo.
Verdades são a construção do entendimento que fazemos sobre pessoas, coisas e números. Elas não são invariáveis, sofrem mudanças naqueles que têm mobilidade no olhar e se incomodam sobremaneira com a estagnação. Não há verdade plena nem absoluta, há sim a verdade da hora, que quando modificada, não assume ares de mentira. O que seria da ciência que condenou por décadas o uso do café e hoje já divulga seus benefícios à saúde?
Concluo que sábio é aquele que desconfia, sempre desconfia e, sistematicamente elabora rumos para que a incerteza não perca a sua elegância e a sua modéstia.
Assim, os que escolhem a certeza perdem o privilégio de serem considerados, pelos menos momentaneamente, sábios.
P.S. Na mitologia grega, Atena, deusa da guerra e da sabedoria, tinha uma coruja como mascote. Os gregos consideravam a noite como o momento do pensamento filosófico e da revelação intelectual.
A coruja, por ser uma ave noturna, representa a busca pelo saber.

Texto Lígia Beuttenmüller
Imagem: Google imagens
Direitos autorais reservados

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A SOLIDÃO E O ESPELHO

A SOLIDÃO E O ESPELHO

“Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma." Fátima I. Pinto.



Senti saudades do Aurélio e dei um tempo ao Google, queria buscar um sinônimo para terminar de digitar um texto científico. Ai pensei na solidão dele – a do dicionário- ao qual fui desprezando sua companhia depois do advento da informática e com ela o surgimento dos sites de busca. Por causa disso resolvi hoje, falar sobre ela - a temida solidão.
Pensando, descobri outras solidões, por exemplo, a da palavra sem som, que por mais bem escrita, grafada, será apenas lida, e não terá o charme, nem a força da palavra dita.
Diante desses devaneios, comecei a lembrar de quantas pessoas do meu ciclo de amizade , “detestam , odeiam “ a solidão e comparando minha vivência e a minha estreita relação com ela ,
percebi o quanto essa "coisa medonha" me faz bem.
E lá no dicionário vi que a palavra "solidão" significa: estado de quem se sente ou está só. Pareceu-me que a maioria sente, como se realmente estivesse faltando algo ou alguém, daí conclui que talvez seja o medo que as pessoas tem de confrontar-se, pois não haverá ninguém para perguntar ou responder, só elas a elas mesmas.
Interessante como a solidão é tão importante para o meu equilíbrio interior, eu a utilizo como espelho, para na prática reproduzir a imagem de mim mesma, a quem elogio e recrimino, abençoo, ou abomino, por isso a considero como minha única companhia verdadeira, e não a dispenso , nem que eu esteja numa multidão,
dada a sua importância em minha vida.
Minhas dúvidas, eu posso espalhar ao oriente, ao ocidente, ao norte e ao sul, e incumbir ao vento de distribuí-las aos “fofoqueiros de plantão” tornando coletiva minhas inquietudes,
no entanto somente dentro de mim,
é que o vácuo se fará e terá eco para responder as minhas interrogações.
Desta forma, estar só, é questão de preferência existencial.
Os acessórios em qualquer contexto sempre poderão ser dispensados ou trocados (pessoas ou objetos), no entanto a essência, essa é, imprescindível para acopla-los. E nunca eu poderia dispensar-me de mim mesma, pois a solidão é meu adorno.
O espelho é o instrumento que nós mulheres usamos para poder passar baton, e eu aproveito sua utilidade , empresto-o a minha solidão , para que ela possa "xerocar "
a minha alma.

Texto e imagem : Lígia Beuttenmuller
DIREITOS RESERVADOS

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Mr. JAMES

JAMES

Aquela era sempre a hora de acordar, havia disciplinado seu relógio biológico para despertar, e este era tão fiel ao seu comando que nem era necessário dispor essa tarefa para um equipamento com mecanismo digital ou analógico.
Num dia de seu aniversário, tempos atrás rcebeu de presente um relógio belíssimo com designer infantil, (parecia um brinquedo desses vindo do Paraguai), era um relógio com formato de galo que quando programado para despertar abria a “goela” e soltava o sonido que um galo faz ao amanhecer.
No início do uso, ficava encantada com aquele som nostálgico, que lembrava a roça, a granja, de qualquer lugar interiorano. Mas ao passar do tempo, foi perdendo o encanto de ser acordada pelo som de um galo em plena metrópole, porque ao abrir a janela do apartamento,
enfrentava o caos sonoro de uma cidade que gira em quatro rodas.
Passou a questionar sobre a ilusão e a certeza, então decidiu dispensar o som romântico e bucólico embora tivesse que enfrentar o concreto.
Preferiu sair dos minutos surreais , retirou as pilhas do despertador e deixou-o guardado num armário. Não queria mais enganar-se com um galinho de mentira.
Por ser acordada sempre na mesma hora, aproveitou o hábito para treinar acordar sem que fosse despertada por qualquer dispositivo.
Conseguiu.
Agora não precisava mais ouvir nenhum som para pular da cama. Pouco tempo depois , arrumou as malas e foi morar na cidade em que havia nascido, no interior paulista, aonde os galos cantavam de verdade.
No caminho de volta para casa sorriu, lembrando que o novo inquilino ao abrir a porta da sua ex-moradia , iria ser recebido por um galinho sem pilhas, o James.
Texto e Imagem : Lígia Beuttenmüller
Direitos Autorais Reservados