sábado, 17 de julho de 2010

É SÓ VER VOCÊ, E...



Ela chegou, surgiu do infinito, com um sorriso no canto da boca, uma menina, que quer rock, mas está aprendendo a ouvir “Quereres”; “A cúmplice” Suave é a noite”; “Contigo aprendi” ; “Hino ao amor”. Canções de um tempo tão antigo como o som repercutido na frase de Adão para Eva: Tu me amas? Claro que sim. Ela não se importa se o azul do céu de uma encosta qualquer, irá escurecer, pois acredita que um arco-iris estará lá, para demarcar o tesouro encontrado.
Quer embriagar-se não só de vinho, mas, do néctar das flores, que ilumina as manhãs nos jardins cultivados. Não se incomoda com o barulho suave da brisa, nem do vento que ruge nos temporais, pois qualquer som, denota vida, e isso é essencial.

Até zoada de trovão é considerada presença, e sem medo, não se esconde debaixo da cama, apesar da tenra idade, percebe que é apenas uma voz mais grave , mansamente audível para quem está só, mas não se sente só.
Sabe, que é essa a forma que a natureza encontrou para anunciar, que um raio está por vir , pois a turbulência, encarna a própria vida, musicada no ritmo da vontade de extravasar a saudade incontida.
Ri sem saber do quê, gargalha para externar a alegria que estava resguardada . Quer fazer/dizer bobagens, sorrir do próprio sorriso embasbacado de surpresa e lassidão, aquele que provoca uma sinergia boba, complacente, com quem não tem juízo, nem quer saber do que ele se alimenta, sente amorosamente que certamente não é das sobras da mesa, mas sim, da primeira colheita, daquele ano, daquele mes, daquele dia , daquela hora.

Não tem intenção de criar juizo, quer apenas ser cúmplice do raio que antecede a chuva, e para isso é necessário rasgar o céu e se encravar na terra.
Sente que o mundo continua girando e lhe entontecendo numa embriaguez sóbria, que agradece à vida pela própria vida, por ter se dado e recebido tanto!
Não cabe em si de contentamento, por estar “contente”, na descoberta de tanta paz, aquela que entra no peito e descansa no colo, que faz cafuné no umbral do coração, pede licença não só para entrar, mas, para permanecer, nem que seja por segundos, ou quem sabe para a vida inteira ou para o que sobrar viver!


Texto Lígia Beuttenmüller
Imagem: Google Imagem

sexta-feira, 16 de julho de 2010

NOVO SOL, NOVA LUA


Já era tempo de alongar os braços e aconchegar outros amores, ouvir o som dos pássaros, e torná-los cúmplices no novo vôo. Encurtar a distância entre o juízo e o coração, permitir que a emoção enlaçasse a razão e que as duas pudessem conviver viver harmônica, e simbioticamente, para determinar a paz interior.
Nesses passeios, conseguir visitar esquinas entranhas e conhecidas, mas sem vê-las com o olhar do passado ou perscrutando o futuro.
Deixar que ele venha em seu tempo sem instigá-lo a correr para o presente, como se ele viesse adornado de uma bola de cristal na mesa, na cama, para prever acidentes emocionais ou lhe ajudar a precaver-se deles.
É bom estar assim, e entrar com a cabeça tão vazia como um estádio de futebol sem jogo num domingo de sol.
E assim, não pensar no finito avassalador, que destrói qualquer possibilidade de serenidade e sem se jogar no precipício das inquietações de quem não começa por medo de que um dia o fim chegará para fechar o ciclo de tudo que vive, inclusive do amor doido e doído.
Indescritível é a sensação de poder, não por controle remoto, mas pela certeza de ter conseguido a capacidade de mudar e por se permitir a outras escolhas numa intimidade fidelíssima, e inevitável, com o seu amor próprio, mantido agora, pela destreza adquirida para romper portas e janelas , mares e terras em busca do que chegaria como um presente entregue a cada novo sol, a cada nova lua, para celebrar inexoravelmente a vida.

Créditos de Texto e Imagem
Lígia Beuttenmüller

terça-feira, 13 de julho de 2010

DE VOLTA AO RECOMEÇO


A dor havia chegado e nem sabia quando iria embora.
Era resultado do excesso de amor que estufava e comprimia o coração. A presença e a ausência eram tão antagônicas e tão grandes, que mal cabiam dentro de si. E sem brecha, a saudade não tinha por onde sair, nem havia caminho para outro amor entrar. Ainda não era tempo de exílio, pensava.
Sentia taquicardia, e acelerava o fôlego para aspirar o mundo. Parecia que a angústia tinha declarado morada permanente. Tudo se fechava ao seu redor.

Apertava em conchas, as mãos suadas , como se quisesse aprisionar a vida, mesmo que naquele momento não parecesse ter sentido algum, nem as conchas , nem a vida.
O amor que acreditava sentir, estava persistindo em sobreviver, sem água , sem sol, sem açúcar, sem sal, como um habitante do deserto compartilhando miragens.
O oásis representava o tempo impreciso, aceitando o visitante como sobrevivente da ilusão que não queimava, mesmo sob o sol mais ardente.
Tinha medo de perder o que estava dentro ou do que lhe esperava lá fora? O mundo lhe parecia estranho, porque temia acabar se enroscando em alguma teia tecida novamente pelos seus sonhos .
Cada centímetro quadrante daquele esconderijo era precioso, formava uma tábua de jogo de damas. Não movia nenhuma pedra, o jogo estava inacabado , não sabia se era a sua vez de jogar, havia se perdido no emaranhado das peças e a nitidez das linhas do tabuleiro não ajudavam a sua sensatez.

Não se desfazer do "habite-se" mantinha a esperança da porta sempre aberta para motivar a volta. A incerteza do ir e vir parecia acalmar as marolas da desilusão como brisas e maresias que enfeitam e desafiam os mares, tentando esconder a intencionalidade do nunca mais.
Ficava em transe, sem perspectivas e sem alternativas, porque insistia em manter preso o que era etéreo e fugidio.
Meses e anos foram sendo desperdiçados na trama da espera.

Num dia de sol, - os dias de chuva são coniventes com a letargia-, decidiu-se...
Correu para o mar, banhou o corpo, lavou a alma, pegou uma onda, rumou ao oceano, ganhou o horizonte. Submergiu! não se perdeu nunca mais.

Créditos de Imagem e Texto
Lígia Beuttenmüller

sábado, 10 de julho de 2010

CICLO DO VENTO, BEIJO DA LUA


Por onde andas? Contando estrelas no céu?
Passeando nas nuvens?
Ofuscando os olhos com o brilho do sol?
Matando a sede aonde?
Enquanto houver amanhecer e anoitecer
E eu acreditar que a madrugada
é o compasso da tua ausência
Vou estar aqui
Olhando para o céu
deixando que a lua
Encante a minha alma
E eu possa ordenar ao vento
que transcenda as fronteiras da saudade
e diga num sussuro ao seu ouvido
Que eu lembro
Lembro muito
De você.
TEXTO E IMAGEM
LÍGIA BEUTTENMÜLLER

AS AUSÊNCIAS E DISTÂNCIAS



Quantos kilometros nos distanciam dos nossos sonhos? Quantas estrelas brilham e nem podemos tocá-las, quantas noites se vão, carregando os dias em que nem percebemos tê-los vivido.
Quais nuvens encobrem os raios que a lua infinita gostaria de mostrar? Nunca se sabe.
Estes são os desafios infindos que talvez, não possamos desvendá-los se não nos permitirmos abrir a prisão consentida. Têm significado sim, porém, só terão concretude, se conseguirmos personificar, sair da sala para os terraços, espiar as vitrines do mundo e expiar o que nos causa sofrimento, escutar o som que vem dos mares, da florestas "encantadas", para poder assim, ver-se de fora o que está dentro, como um reflexo de espelho.
Fazer poesia com as quebras da expectativa e escrever poemas com os pingos da chuva, buscar acreditando que vamos encontrar sim, fazer festa sem termos a obrigação de comemorar, lamber as dores até que elas se tornem um equívoco desvendado.
Abandonar sobre a mesa as lágrimas cortantes dos amores vestidos de tristeza e descobrir que a rotina dos ponteiros podem acelerar o que há de vir quebrando os laços do passado e construindo (- nos) nós para o futuro.
Até que as lembranças virem passado novamente, mas bem guardado, para dar chance que o presente se refaça e faça um percurso para nos levar ao que nos permitirmos encontrar .

Créditos:
Texto e Imagem -Lígia Beuttenmüller

quinta-feira, 8 de julho de 2010

DINHEIRO E FAMA NA CONTRA-MÃO


Me parece que a fama e o dinheiro não fazem bem a certas pessoas, que pena! Como não saber administrar as benesses próprias dessas duas coisas que fazem da vida normal e comum, um espetáculo? Como é possível ter essa grande oportunidade de estar debaixo dos holofotes da sociedade e não destinar essas possibilidades para propagar a paz e ajudar aos necessitados?
Os incautos dizem que o dinheiro transforma o indivíduo, todavia não concordo que isso seja verdadeiro, isso combina mais com lenda urbana, pois há muitos ricos que se preocupam com a fome , miséria e despreparo profissional do povo mais pobre, e criam associações desportivas, ONGs, para modificar a vida dessa gente.
No entanto, a safra futebolística, tem sido representada por alguns atletas despreparados para lidar com o sucesso e a conta bancária, buscando superar a infância difícil, vivida muitas vezes em favelas. E ao virar celebridade, carregam consigo os traumas vividos lá e “descontam” na sociedade, como se não soubessem que há profissionais capacitados para retirar deles a “favela” de onde vieram.
Lógico, que há nessas comunidades expropriadas, muita gente do bem, no entanto é comum ao brasileiro justificar que “com convivência até perna quebrada se pega” que a meu ver, é outra lenda urbana.
Quer dizer que só há visgo para coisa ruim?
Lastimo que tanto no meio esportivo como no artístico e político existam tantos depreciadores da fortuna econômica e cultural, que poderia ser utilizada como conversão do menor para o maior, do individual para o coletivo, do fragmentado para o completo, do fugaz para o permanente.
Há que se reestruturar a família, educar os filhos, colocar limites, articular a paz e a exaltação à vida.

Quantas pessoas ainda morrerão pela impunidade avassaladora que permeia o Código Penal mediante os atos criminosos? Até quando esqueceremos que viver é a possibilidade que a natureza nos dá para termos tempo de ser feliz, ter e fazer o bem?
O Brasil está se tornando um gigante econômico, que se deforma a passos largos pela violência urbana, contra crianças, mulheres e idosos que todo dia “escapam” e lutam para permanecer vivos e sem traumas.
Quantos “Robinhos”, “Veras Lúcias” , “Brunos”, serão ainda capas de revista para demonstrar que a gente precisa dar um basta enquanto cidadãos, antes que sejamos parte das estatísticas dos que são violentados por “loucos” que muitas vezes são considerados “primários”, e por ter residência fixa respondem em liberdade ou pagam seus crimes com medidas sócioeducativas?

Em tempo:
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/07/apos-prisao-bruno-diz-que-esperanca-de-disputar-copa-acabou.html.
O Bruno lamenta não poder participar da Copa de 2014.
Uma camisa- de –força, e uma jaula para esse cara que acusado de assassinato, pensa no “ópio do povo” e na sua projeção pessoal.
Créditos:
Texto : Lígia Beuttenmüller
Imagem:Google Imagens

CRIMINALIDADE ENDÊMICA



Acabamos de perder a taça, os ribeirinhos de Alagoas, a geladeira comprada em 24 prestações, e Eliza Samudio, a vida. Perdas materiais e morais, que se entrelaçam às perdas de valores.
No caso da taça, em que parte do caminho foi deixada para trás a vontade guerreira de vencer? Que surto psicótico-coletivo atrapalhou as jogadas mirabolantes dos jogadores brasileiros? Afinal, como um simples gol destrambelha toda uma equipe, incluindo o Dunga Zangado? O “já ganhou” ficou apenas no “bicho” que encherá o bolso dos participantes com ou sem vitória.
Os alagoanos coitados perderam a geladeira para as enchentes, por causa da falta de consciência moral dos políticos que fazem da seca e da cheia um trampolim para as urnas.
E a Eliza perdeu a vida porque buscava identificar o pai do seu filho e naturalmente receber o que lhe cabia por direito na justiça.
Tenho lido as últimas edições da Revista VEJA, e lamento a quantidade de páginas dedicadas aos violentos tais como Robinho- Porque eles nunca crescem? (edição 2098/fev.2009) Vera Lúcia- A confissão da Bruxa (edição 2166/mai.2010), e Bruno – Traição, Orgias e Horror (edição 2172/jul.2010), com os rostos estampados na capa , como se isso os envergonhassem, muito pelo contrário, dão notoriedade a esses infames, que vão do estupro, a violência contra crianças, a morte coletiva, e ao assassinato.
Vejo na Veja, uma inversão de valores da mídia escrita. Talvez colocar as vítimas em primeiro plano chocasse mais a população, e fizesse com que a morte, a dor e o sofrimento causasse a mobilização nacional para a reforma legislativa, cujas leis “caducas” não se adéquam à punição de crimes bárbaros a que estamos expostos como vítimas ou espectadores indolentes.
O legislativo deve encontrar soluções metajurídicas para o problema da criminalidade, pois o Direito é apenas um subsistema da sociedade global, que a cada dia enfrenta a impunidade e à criminalidade endêmica que assola o país.
CRÉDITOS
Texto: Lígia Beuttenmüller
Imagens: Google Imagens