terça-feira, 7 de maio de 2013



















A BAILARINA SE RECUSOU A DANÇAR





Na minha infância, ganhei uma caixa para guardar joias, embora eu não as tivesse. Dentro dela havia uma guardiã, uma bailarina. 

Bastava abrir a caixinha e dar corda para a dançarina despertar. Ai ela girava , girava , girava ao som de uma melodia. 

Não entendia direito qual o mecanismo que a fazia rodar , me contentava em observar sua dança estática, composta de rodopios. 

Enquanto ela girava , eu deslizava, patinava e voava com os meus pensamentos. 

Todos os dias eu a fazia dançar para mim, com a certeza que o espetáculo nunca iria terminar. Ledo engano. 

Um dia a dançarina não quis mais dançar. A corda quebrou e eu não acordei. 

Por anos vivi da sua lembrança, cultivando saudades assim. 

Hoje, tomo uma taça de vinho e com a respiração presa, fecho os olhos, abro os ouvidos. 

Busco-a pacientemente nas minhas memórias e me vejo esperando que ela volte a dançar, para poder desejar-lhe boa noite.

Texto e imagem - Lígia Beuttenmüller

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