quinta-feira, 16 de outubro de 2008

AVULSA



ACORDOU TARDE, ESPREGUIÇOU-SE COMO NUNCA MAIS HAVIA FEITO, VIROU-SE PARA O LADO, OLHOU O SOL FAZENDO SOMBRA EM SEUS PÉS. Riu para o despertador, zombou do tempo, do trabalho, do trânsito, da secretária, do almoço executivo, do elevador, do patrão. Era só risos. Imaginou o café, o chocolate, a coca-cola, o cigarrro (o pior rsrsr), ligou o som e coincidentemente estava lá “ My Way”, numa sonoridade “Sinatriana” e agradeceu de forma subliminar, a programação da rádio local, por ter lhe dado de presente essa trilha sonora para o início de suas férias. Desligou o celular e não ligou a TV. Queria apenas saborear a chance de ser "avulsa" por trinta dias para decidir aonde ir ou estar, de falar ou calar, de sentir ou “adormecer”, de sorrir ou chorar , de partir ou ficar. Estava tudo sob controle real. Tinha um mês para se sentir desvencilhada de compromissos , obrigações . Queria revirar gavetas, rasgar contratos e cartas que já não tinham valor. Sentia vontade de excluir, exorcizar-se das tralhas e traças. Queria fazer tudo isso num tempo sem tempo. O dia passou lento como se os ponteiros fossem cúmplices da sua liberdade. A vida parecia parada e enclausurada no seu quarto. Tudo esperava o seu comando.
Anoiteceu, contou estrelas, convidou a lua, pra adentrar, abriu escancaradamente as janelas e as cortinas . Brindou o luar com uma taça de vinho sem preço, só pelo prazer e pelo sabor, naum era Hermitage La Chapelle 1961, nem um Château Mouton-Rothschild 1982, era um vinho sem marca comercial, mas tinha um valor emocional inquestionável, guardado por anos a fio , para um dia especial como aquele, iniciado do seu jeito , do seu melhor jeito de ser feliz.

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