quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

PELA PORTA QUASE ABERTA



Esqueci de trancar a porta, porque achei que nem precisava, tamanha a certeza que o coração estava de férias, o corpo também. A distância era a garantia da impossibilidade do voo.
Mas por descuido meu ou cumplicidade dos astros deixei-a entreaberta, havia guardado o anel comprometedor, e sobretudo, perdido o cadeado e chave.
Entre cautelas, precauções e desmantelo, percebi agora que sei quem me chega, na madrugada insone; quem entra e nem bate à porta quase fechada, e sem me incomodar, se acomoda na mesa, na cama, se impregna em todo lugar. E quando não vem, ou não avisa a ausência , esparramo todas as saudades de uma vida inteira nos oito cantos da casa, e de mim.
Por isso não dá mais para trancar a porta, ignorar o sentimento, nem expulsar o ilustre visitante .
É deixar apenas quem sabe, que um raio de sol, de lua , ou de uma estrela cadente sejam tão brilhantes que descolore esse sonho.
Mas antes que eu adormeça, me desespere, ou esqueça, preciso segredar em seu ouvido: Ei, ei ... eu, já sei quem é você!




CREDITO DE IMAGEM E TEXTO
Lígia Beuttenmüller

Um comentário:

Anônimo disse...

Lígia,temos por precaução a armadura que nos faz parecer fortes e inatingíveis. Porém, um dia percebemos que o vazio e essa falsa segurança ficam dispersos num mundo tão pequeno e frio. Eis que resolvemos deixar de lado essa armaçao...e é nesse momento mágico..como vc bem descreveu que percebemos o quanto somos frágeis e como seremos eternamente carentes de amor e aconchego. Beijos e nunca deixe morrer nos corações a certeza de que sempre valerá a pena o risco de se entregar.
Olga RS